
(Thomas Merton - A Montanha dos Sete Patamares)
(com colaboração de Edy Gianez)
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let yourself feel. from Esteban Diácono on Vimeo.
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Nem só de revoluções estudantis e putaria flower power viveram os anos 60. Há um contraponto introspectivo, de reflexão e melancolia que encontramos, por exemplo, na trinca: Nick Drake, Tim Buckley e Van Morrison.
Seguindo a idéia de que o fim dos anos 60 foi um momento interessante musicalmente, anos bombásticos na história da cultura mundial, a tríade chama atenção - em especial Van Morrison.
Vejam, não se trata aqui de mera depressão-clichê, como aquela exultada por bandas que encontraram nisso mais uma veia de mercado do que um motivo para fazer música (sim, estou falando dos “emos”), ou mesmo de emulação musical de um suicídio, pois apesar de Drake e Buckley terem supostamente cometido suicídio (overdoses), trata-se aqui de uma busca por redenção. O jornalista e escritor Lester Bangs (aquele gordo de bigode e jaqueta de couro que é retratado no filme Quase Famosos pelo ator Phillip Seymour, dando umas dicas para o jovem jornalista musical), ao falar do disco Astral Weeks (1968), segundo álbum de Van Morrison, nos dá um exemplo de como essa busca por redenção em meio a melancolia alcança uma determinada forma:
“Van Morrison está interessado, obcecado com a quantidade de informação verbal ou musical que ele consegue comprimir no menor espaço possível e, de maneira inversa, quão longe ele consegue esticar uma nota, palavra, som ou imagem. Capturar o instante, seja um carinho ou um beliscão. Ele repete certas frases que a extremos, na boca de qualquer outro, seriam ridículas, porque ele está esperando uma visão se descortinar, tentando, da maneira mais livre possível, arrastá-la pelos cotovelos. Alguma vezes eles nos dá isso com seus silêncios, extinguindo a canção no meio do vôo: “It´s too late to stop now!”. (Lester Bangs,'Reações Psicóticas'. Conrad)
E seguimos com um exemplo lírico da primeira faixa do disco (disco, aliás, que está em 19º lugar na lista dos 100 melhores discos feitos na história, editada pela Rolling Stones):
Astral Weeks
If I ventured in the slipstream
Between the viaducts of your dream
Where immobile steel rims crack
And the ditch in the back roads stop
Could you find me?
Would you kiss-a my eyes?
To lay me down
In silence easy
To be born again
To be born again
Como diria Fabio Massari, o disquinho é seminal! Isso porque aqui a introspecção não é apenas algo autoral-egocêntrico, mas é a busca por algo mais além de si (onde talvez o próprio “si” já não seja necessário); e a melancolia não é apenas frustração mal resolvida, mas a constatação de uma deficiência em expressar essa experiência “mística” da redenção. Daí então porque Morrison repete diversas vezes a mesma palavra, ou frase, como, por exemplo, na faixa Madame George:
Say goodbye goodbye goodbye goodbye to madame george
Dry your eye for madame george
Wonder why for madame george
The love’s to love the love’s to love the love’s to love...
Say goodbye, goodbye
Get on the train
Get on the train, the train, the train...
This is the train, this is the train...
Whoa, say goodbye, goodbye....
Get on the train, get on the train...
Drake e Buckley ficam pra próxima. Astral Weeks para vocês!
ps: Para ver a conquista de Van Morrison depois desse disco, basta ouvir o gozo de alegria que pertence a cada nota emitida de His band and the Street Choir, de 1970!
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. 1969 foi um ano interessante musicalmente. Foi o ano das Curvas da Estrada de Santos, de saber Cadê Teresa, de mandar Aquele Abraço, de cantar País Tropical e Que Maravilha! Foi o ano de estréias de Elton John, Yes, Santana, Jackson 5. Foi o ano de álbuns como Yellow Submarine e Abbey Road, dos Beatles, de Let It Bleed dos Stones, de Tommy do The Who e From Elvis in the Memphis de Elvis. Ano de Woodstock e toda aquela putaria que todo mundo sabe…
. Enquanto os nossos baianos compunham e tocavam a Tropicália, o jazz também entrava em ebulição de experimentações. Já se colhiam frutos do chamado free jazz que Ornette Coleman tocava desde 1960 no Five Spot Café, em Nova York. As estruturas de improvisão haviam evoluído de tal maneira que alguns acreditavam que o jazz tinha chegado ao seu limite. Opa, alguém disse limite? Apresento-lhes Miles Davis.
. Em 1969, a grande capacidade de observação e síntese de Miles Davis gestava um outro grande momento de evolução em sua expressão artística. Desenvolvia idéias e sons esboçados um ano antes, em Miles in the Sky e Filles de Kilimanjaro - era a sua chamada 'fase elétrica'. A parafernália eletrônica que Miles havia pedido à gravadora Columbia fazia agora a alegria da imaginação de uma grande banda reunida. Ao seu famoso Grande Segundo Quinteto (Chick Corea, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Ron Carter e Tony Williams), vieram somar nomes como o do guitarrista John McLaughlin e do tecladista Joe Zawinul. Dessa reunião, em fevereiro de 69, primeiro veio a público o álbum In a Silent Way, um cumprimento de aproximação de Miles Davis ao rock dos anos 60.
. De volta aos estúdios da Columbia em Agosto, animado com o sucesso do último álbum, o homem que sofria de criatividade, segundo nosso grande Aramis Millarch, Miles Davis dá continuidade à exploração daquele novo jazz-rock. Em três dias, a grande banda grava um álbum inovador e (r)evolucionário, tão grande quanto Kinf Of Blue: Bitches Brew.
. Bitches Brew é um dos momentos de grande evolução na carreira de Miles Davis e, porquê não, uma das macromutações do jazz - uma evolução que alguns músicos consideram como o limite do jazz, o ponto em que o jazz corre o risco de perder sua identidade (não me pergunte o quê quer dizer 'identidade' em jazz...). O fato é que esse disco cristaliza, privilegiadamente, uma evolução na expressão jazzística. Ao aproximar técnica e padrões do jazz com o rock dos anos 60, Miles acabou por dessacralizar o jazz (ironicamente, um dos homens que o sacralizaram). Ali está representado literalmente o conceito de fusion e as infinitas possibilidades que é e pode ser o jazz.
. O legado desse acontecimento é inúmero e impossível de identificar exatamente. Dali saíram Chick Corea que seguiu o fusion; Wayne Shorter e Joe Zuwinul fundaram o importante Weather Report; John McLaughlin fundou a Mahavishnu Orchestra, banda de jazz-rock; Herbie Hancock seguiu uma considerável carreira pelo fusion pautada no budismo visando a felicidade da platéia; e outras grandes carreiras que dali despontaram.
. Dez anos depois de realizar Kind Of Blue, Miles Davis novamente surgia na crista da onda apontando novos caminhos - ou eram novos limites? A verdade é que Miles Davis não olhava para trás.
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Miles Davis é a figura central do Jazz. Definidor de caminhos, passou pelo bebop, cool jazz, fusion e, se ainda estivesse vivo, nos levaria a outros cantos do baú misterioso que é este ritmo. Mas é preciso lembrar que se Miles apontou caminhos à frente é porque ele tinha a vista ampla de quem pertence às alturas. E a montanha que ele havia escalado chamava-se Charlie Parker.
Parker, de apelido Bird, fez seu vôo meteórico entre 1920-1955, e conseguiu fazer tal evolução no jazz, tanto quanto Louis Armstrong havia feito na década de 20. Em meados da década de 40 o swing reinava nos EUA, ele havia se tornado o modelo musical da democracia americana e fora a bandeira da liberdade e progresso desse país durante a Segunda Guerra. No entanto, todo modelo é uma forma, e formas delimitam. Daí, um grupo de músicos procurarem outra via para expressarem sentimentos contraditórios à figura do “american way of life” presente no swing (democracia para o mundo e forte preconceito racial dentro de casa, por exemplo).
Dizzy Gillespie, Thelonius Monk, Kenny Clarke e Bird aventuraram-se nos clubes da 52th Avenue, em Manhattan, para remodular o jazz. Se com Dizzy, Clarke e Monk nós tínhamos a harmonia e o ritmo daquilo que viria a ser chamado de bebop, Bird trouxe – como nota o crítico Stanley Crouch, no já citado documentário de Ken Burns – o cimento que uniria esses tijolos, a saber, o fraseado. Parker voava por sobre as escalas intercalando entre uma nota e outra da melodia conforme aos acordes uma série de outras notas numa velocidade inacreditável.
Mas, a velocidade da vida de Parker, abastecida por heroína e álcool, levou-o muito cedo ao acorde final, privando-nos de uma mente musical que tateava com seu saxofone a escuridão que representa desconhecido. Justa homenagem a esse pássaro fez Clint Eastwood no filme “Bird” (1988). E é o mesmo Clint que nos leva de volta a Miles Davis, já que em seu filme “Na linha de Fogo” (1993), o segurança presidencial Frank (Clint) antes de receber o telefonema do provável assassino do presidente, Mitch Leary (John Malkovich), chega em casa exaurido e põe para tocar “All Blues” do disco “Kind of Blue” , que completa 50 anos nesse mês. Enfim, se Miles é um gigante do jazz, é justo dizer que ele atingiu essa altura ao subir nos ombros de outro gigante.
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