29 junho 2009

Astral Weeks (1968)


por Edy Gianez


Nem só de revoluções estudantis e putaria flower power viveram os anos 60. Há um contraponto introspectivo, de reflexão e melancolia que encontramos, por exemplo, na trinca: Nick Drake, Tim Buckley e Van Morrison.


Seguindo a idéia de que o fim dos anos 60 foi um momento interessante musicalmente, anos bombásticos na história da cultura mundial, a tríade chama atenção - em especial Van Morrison.


Vejam, não se trata aqui de mera depressão-clichê, como aquela exultada por bandas que encontraram nisso mais uma veia de mercado do que um motivo para fazer música (sim, estou falando dos “emos”), ou mesmo de emulação musical de um suicídio, pois apesar de Drake e Buckley terem supostamente cometido suicídio (overdoses), trata-se aqui de uma busca por redenção. O jornalista e escritor Lester Bangs (aquele gordo de bigode e jaqueta de couro que é retratado no filme Quase Famosos pelo ator Phillip Seymour, dando umas dicas para o jovem jornalista musical), ao falar do disco Astral Weeks (1968), segundo álbum de Van Morrison, nos dá um exemplo de como essa busca por redenção em meio a melancolia alcança uma determinada forma:


“Van Morrison está interessado, obcecado com a quantidade de informação verbal ou musical que ele consegue comprimir no menor espaço possível e, de maneira inversa, quão longe ele consegue esticar uma nota, palavra, som ou imagem. Capturar o instante, seja um carinho ou um beliscão. Ele repete certas frases que a extremos, na boca de qualquer outro, seriam ridículas, porque ele está esperando uma visão se descortinar, tentando, da maneira mais livre possível, arrastá-la pelos cotovelos. Alguma vezes eles nos dá isso com seus silêncios, extinguindo a canção no meio do vôo: “It´s too late to stop now!”. (Lester Bangs,'Reações Psicóticas'. Conrad)


E seguimos com um exemplo lírico da primeira faixa do disco (disco, aliás, que está em 19º lugar na lista dos 100 melhores discos feitos na história, editada pela Rolling Stones):


Astral Weeks

If I ventured in the slipstream
Between the viaducts of your dream
Where immobile steel rims crack
And the ditch in the back roads stop
Could you find me?
Would you kiss-a my eyes?
To lay me down
In silence easy
To be born again
To be born again


Como diria Fabio Massari, o disquinho é seminal! Isso porque aqui a introspecção não é apenas algo autoral-egocêntrico, mas é a busca por algo mais além de si (onde talvez o próprio “si” já não seja necessário); e a melancolia não é apenas frustração mal resolvida, mas a constatação de uma deficiência em expressar essa experiência “mística” da redenção. Daí então porque Morrison repete diversas vezes a mesma palavra, ou frase, como, por exemplo, na faixa Madame George:

Say goodbye goodbye goodbye goodbye to madame george
Dry your eye for madame george
Wonder why for madame george
The love’s to love the love’s to love the love’s to love...
Say goodbye, goodbye
Get on the train
Get on the train, the train, the train...
This is the train, this is the train...
Whoa, say goodbye, goodbye....
Get on the train, get on the train...


Drake e Buckley ficam pra próxima. Astral Weeks para vocês!


ps: Para ver a conquista de Van Morrison depois desse disco, basta ouvir o gozo de alegria que pertence a cada nota emitida de His band and the Street Choir, de 1970!

4 comentários:

Unknown disse...

Pra mim que nunca tinha ouvido falar dessa "trinca", essas informações foram ótimas, mt explicativas... Até me interessei ;)

http://anacarolinolandia.blogspot.com/

Edy disse...

Espero que os próximos posts sobre o resto da "trinca" possam despertar ainda mais seu interesse, Ana!

Saci Pirata disse...

"Trinca", nunca tinha ouvido falar, hehe
Legal o post!
Abração do Saci :D

Otávio disse...

overdose ou não, suicide is painless rs