25 junho 2008

PQP (ou Do Critério de Juízo Musical)

Nos últimos tempos tenho me convencido de que a melhor maneira para identificar uma música ou alguém que é realmente bom, é o critério PQP. E que para se identificar um clássico, é quando o critério PQP é reincidente.


O critério PQP é desprovido de ruídos, argumentos ou convencimentos. Pode e deve ser educado, sim, como todo juízo de gosto. Mas ele sempre é único. O PQP é proferido baixinho, só para si, naquele estado de estarrecimento contemplativo. Quando algo requer o PQP, certamente aí o sujeito julgou sinceramente, autenticamente.


Ultimamente tenho utilizado o PQP ao escutar três damas. Reincidentemente, ao ouvir Dianne Reeves (Good Night and Good Lucky) e Peggy Lee (Black Coffee). Tenho certeza que o tempo vai passar, vou ficar velho, vou perder alguns dentes, ficar um pouco surdo e, sentado na minha poltrona quase encardida, vou ouvir essas duas damas e vou proferir o PQP. É indubitável.

Outra dama que tem me chamado a atenção e requisitou meu PQP é STACEY KENT.



Já ouvi por aí que Stacey Kent é fogo de palha, que não valeria a pena perder tempo quando se tem grandes damas do jazz. Esse é o tipo de julgamento PQP conservador puritano, daquele sujeito que só admite quatro cores no arco-íris. Se dependêssemos de pessoas assim, jamais teríamos instalado o vidro retrovisor dentro do carro.


Stacey Kent é ótima e vale muito a pena escutá-la. Em seu álbum de estréia, Close Your Eyes (1997), a ex-estudante de lingüística e literatura de Nova York chamou a atenção da crítica: algo novo e ótimo nascia (era PQP, sem dúvida). Dali em diante eram só comprovações de uma das cantoras mais promissoras no meio do jazz. Let Yoursef Go (1999), Dreamsville (2000), In Love Again (2002), The Boy Next Door (2003), são jóias raras e bem polidas. Revisitando clássicos do great american songbook, como Cole Porter, Gershwin e Ellington, a doce voz de Stacey foi agraciada com prêmios como o British Jazz Award (2001) e o BBC Jazz Award (2002).


Breakfast on the Morning Tram (2007), último álbum de Stacey Kent, consegue superar Stacey Kent. Com um repertório de dar inveja, lady Kent nos brinda com uma versão linda de What a Wonderful Words, Samba Saravah (B. Powell e V. Moraes) cantada em francês (!!), Ces Petits Riens (Serge Gainsbourg), e outras bossas que em sua voz ficaram mais novas ainda.


(mais PQP's: o / o / o / o )

#música: Under a Blanket of Blue (lady Stacey Kent)