03 março 2008

Apatia Urbana III

(Photo by C.J.)


Segue um pitaco de um dos livros mais poéticos que já li. A Poética do Espaço de Gaston Bachelard inaugura uma fenomenologia da imagem poética. Ao mesmo tempo que exerce do ofício de fenomenólogo, o texto de Bachelard não perde por uma página sua força poética.
Bello.

'(...) O número da rua, o algarismo do andar fixam a localização do nosso 'buraco convencional', mas nossa morada não tem espaço ao seu redor nem verticalidade em si mesmo. 'Sobre o chão as casas são fixadas com asfalto para não afundarem na terra' (Max Picard, La Fuite Devant Dieu). A casa não tem raízes. Coisa inamaginável para um sonhador de casa: os arranha-céus não têm porão. Da calçada ao teto, as peças se amontoam e a tenda de um céu sem horizontes encerra a cidade inteira. Os edifícios, na cidade, têm apenas uma altura exterior. Os elevadores destroem os heroísmos da escada. Já não há mérito em morar perto do céu. E o em casa não é mais que uma simples horizontalidade. Falta às diferentes peças de um abrigo acuado no pavimento um dos princípios fundamentais para distinguir e classificar os valores da intimidade.'
(A poética do espaço - Gaston Bachelard)



#música: I'll Build a Starway to Paradise (G. Gershwin)