19 março 2006

A arte por Oscar...


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"(...)
O artista cuida principalmente da vida moral do homem, mas a moralidade da arte consiste no emprego perfeito de um instrumento imperfeito.
O artista nada pretende provar. Até a verdade se prova.
O artista não tem preferências éticas. A preferência ética no artista é um maneirismo de estilo imperdoável.
...
Na realidade, a arte revela o espectador e não a própria vida.
Quando uma obra de arte dá origem a opiniões divergentes é porque ela é nova, complexa e vívida.
Quando os críticos divergem, o artista concorda consigo mesmo.
Podemos perdoar a um homem que faz uma coisa útil, contanto que não a admire. Quando faz uma coisa inútil, a única escusa é admirá-la imensamente.
Todas as artes são completamente inúteis."

(Oscar Wilde - Prefácio, O Retrato de Dorian Gray)

#música: o Rouxinol (gilberto gil)

02 março 2006

Gênese


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Antes era o caos. Era caos porque ninguém tem fotos ou relatos verídicos. Mas antes disso, muito antes, eram os cubinhos de sal.
No céu afora haviam milhões de cubinhos de sal. Um mais intenso que o outro. Então lá pelas tantas, houve algo. Que ninguém sabe ao certo o que foi. Mas foi. Uns passaram a crer num tal 'bigbang'. Outros em vontade divina. No fim ninguém sabe ao certo o que foi. Mas que foi.
Então, lá pelas tantas, que ninguém sabe ao certo quando foi, mas foi, a terra já existia. E mais lá pelas tantas, que ninguém sabe ao certo quando foi, mas foi, um cubo imenso e radiante brilhou mais e mais e virou o Sol. Que também ninguém sabe como, mas foi.
Esse Sol tornou-se tão intenso e tão forte que ninguém sabe como. Mas foi. E de tão intenso e forte, foi aos poucos derretendo os cubinhos de sal que por ali perto da Terra haviam.
E os cubinhos de sal foram derretendo e caindo. Para onde ninguém sabe. Mas caíram. Então, com a força da gravidade, que alguns sabem como, os cubinhos de sal derretidos foram atraídos para a Terra. E de alguma maneira, que ninguém sabe como, mas foi, a Terra até então era água e um pouco de terra. Os cubinhos de sal derretidos, esfarelados, caíram. E caíram. E foram caindo mais e mais naquela água que havia na Terra. Ninguém sabe ao certo como. Mas foi.
E toda aquela água ficou salgada. E dos cubinhos de sal derretidos, esfarelados e depois misturados ao mar, formaram-se seres e mais seres. E deu-se a vida. A vida veio dos cubinhos de sal! Oh céus!
Mas alguns cubinhos de sal, por algum motivo que ninguém sabe ao certo, mas foi, permaneceram lá em cima. Por alguma força ou mutação desconhecida, que ninguém sabe como, mas é, perduraram com aquele calor intenso daquele cubo enorme que chamaram Sol. Aqueles cubinhos de sal, de alguma maneira que ninguém sabe como, se transformaram em cubinhos cristalizados. E de tão fortes que ficaram, brilharam. E brilham.
Uns anos mais depois, os seres que se desenvolveram dos cubinhos de sal derretidos, esfarelados e misturados na água, evoluíram, e evoluíram, e criaram pêlos, e perderam pêlos, e criaram letras, palavras e começaram a pensar. E disseram que aquilo que viam lá em cima eram estrelas. Mal sabiam eles que aquilo tudo eram eternos cubinhos de sal que perduraram com o calor intenso do cubo imenso Sol.
Ninguém sabe como. Mas foi.

#musica: la terrasse (yann tiersen)

01 março 2006

.. de ontem em diante


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De ontem em diante serei o que sou no instante agora
Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa
Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada ]
[ são coisas distintas
Separadas pelo canto de um galo velho
Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho
Do versículo e da profecia
Quem surgiu primeiro? o antes, o outrora, a noite ou o dia?
Minha vida inteira é meu dia inteiro
Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro!
Minha mochila de lanches?
É minha marmita requentada em banho Maria!
Minha mamadeira de leite em pó
É cerveja gelada na padaria
Meu banho no tanque?
É lavar carro com mangueira
E se antes um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira
E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem

(Fernando Anitelli)

#marchinha: Juca Teles Amora e Flor.