07 junho 2009

Bitches Brew (1969)



Há um Olimpo musical no qual vivem artistas que têm uma mágica de constante juventude criativa. Sem apelarem para modismos - mas sabendo estar atentos para o trem que transporta as sensibilidades dos homens de todo o mundo - sabem acompanhar o passo da História e manterem-se com uma dourada adolescência artística. ... Um exemplo é Miles Dewey Davis Jr.

(Aramis Millarch)

. 1969 foi um ano interessante musicalmente. Foi o ano das Curvas da Estrada de Santos, de saber Cadê Teresa, de mandar Aquele Abraço, de cantar País Tropical e Que Maravilha! Foi o ano de estréias de Elton John, Yes, Santana, Jackson 5. Foi o ano de álbuns como Yellow Submarine e Abbey Road, dos Beatles, de Let It Bleed dos Stones, de Tommy do The Who e From Elvis in the Memphis de Elvis. Ano de Woodstock e toda aquela putaria que todo mundo sabe…


. Enquanto os nossos baianos compunham e tocavam a Tropicália, o jazz também entrava em ebulição de experimentações. Já se colhiam frutos do chamado free jazz que Ornette Coleman tocava desde 1960 no Five Spot Café, em Nova York. As estruturas de improvisão haviam evoluído de tal maneira que alguns acreditavam que o jazz tinha chegado ao seu limite. Opa, alguém disse limite? Apresento-lhes Miles Davis.


. Em 1969, a grande capacidade de observação e síntese de Miles Davis gestava um outro grande momento de evolução em sua expressão artística. Desenvolvia idéias e sons esboçados um ano antes, em Miles in the Sky e Filles de Kilimanjaro - era a sua chamada 'fase elétrica'. A parafernália eletrônica que Miles havia pedido à gravadora Columbia fazia agora a alegria da imaginação de uma grande banda reunida. Ao seu famoso Grande Segundo Quinteto (Chick Corea, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Ron Carter e Tony Williams), vieram somar nomes como o do guitarrista John McLaughlin e do tecladista Joe Zawinul. Dessa reunião, em fevereiro de 69, primeiro veio a público o álbum In a Silent Way, um cumprimento de aproximação de Miles Davis ao rock dos anos 60.

. De volta aos estúdios da Columbia em Agosto, animado com o sucesso do último álbum, o homem que sofria de criatividade, segundo nosso grande Aramis Millarch, Miles Davis dá continuidade à exploração daquele novo jazz-rock. Em três dias, a grande banda grava um álbum inovador e (r)evolucionário, tão grande quanto Kinf Of Blue: Bitches Brew.


. Bitches Brew é um dos momentos de grande evolução na carreira de Miles Davis e, porquê não, uma das macromutações do jazz - uma evolução que alguns músicos consideram como o limite do jazz, o ponto em que o jazz corre o risco de perder sua identidade (não me pergunte o quê quer dizer 'identidade' em jazz...). O fato é que esse disco cristaliza, privilegiadamente, uma evolução na expressão jazzística. Ao aproximar técnica e padrões do jazz com o rock dos anos 60, Miles acabou por dessacralizar o jazz (ironicamente, um dos homens que o sacralizaram). Ali está representado literalmente o conceito de fusion e as infinitas possibilidades que é e pode ser o jazz.


. O legado desse acontecimento é inúmero e impossível de identificar exatamente. Dali saíram Chick Corea que seguiu o fusion; Wayne Shorter e Joe Zuwinul fundaram o importante Weather Report; John McLaughlin fundou a Mahavishnu Orchestra, banda de jazz-rock; Herbie Hancock seguiu uma considerável carreira pelo fusion pautada no budismo visando a felicidade da platéia; e outras grandes carreiras que dali despontaram.


. Dez anos depois de realizar Kind Of Blue, Miles Davis novamente surgia na crista da onda apontando novos caminhos - ou eram novos limites? A verdade é que Miles Davis não olhava para trás.

10 comentários:

Luis Sapir disse...

Sem dúvida um dos nomes mais importantes do jazz!

Miles Davis revolucionou a música

Criou estilos como o Cool Jazz e o Fusion.

É um gênio!

O Fusion - a fusão de instrumentos no jazz, instrumentos eletrônicos!
Ele foi o primeiro a fazer essa junção!

Um artista liberal adepto a novos sons novas misturas!

Resumindo

Ele é foda!

Tevez disse...

Conheço o Miles apesar de nao ser muito fã de Jazz....

Otimo Blog :)

Lucas Neves disse...

O Miles Davies,é fodaaaa

Breno Bastos disse...

Esse foi o ano do lançamento de um dos álbuns mais famosos de Elton John: GOODBYE YELLOW BRICK ROAD. Nesse álbum foi lançado CANDLE IN THE WIND, que foi adaptada para o funeral da Princesa Diana.

C.J. disse...

Oficialmente, o álbum "Goodbye Yellow Brick Road" é de 1973. Foi o 9º disco da carreira de Elton John.

Em junho de 1969, Elton John lançou o seu primeiro álbum, "Empty Sky", com produção de Steve Brown.

brunomendes disse...

Musicalmente falando, 1969, para mim, me remete ao Rock, Woodstock Beatles Stones e toda a revoluiçãr artísticas e moral que toda essa geração de músicos estava envolvida.

Infelizmente nunca parei para ouvir o Miles, mas vou começar a fazer isso.
Seu blog é muito bom, bons textos e conteúdos passados de forma suscinta e bem esclarecedora:)

Meu blog é sobre cinema!
t++

Fernanda Sandrini disse...

Parabéns pelo blog!

Dayane Pereira disse...

Interessante falar do Miles,a gente se esquece um pouco dos grandes nomes da musica, que faz ela ser o que é hj..
parabéns pelo blog.

Otávio disse...

só tem q cuidar pra não misturar jazz com filosofia, senão fica subjazz-cente rs

Edy disse...

Belo artigo, Cidnelson! 68-69 é pau na máquina! Enquanto que Miles é material para décadas. E nada como um Aramis escalado na ponta direita desse artigo. Mandou bem!
Abraços