24 abril 2009

Sobre o Ombro de um Gigante



por Edy Gianez

Miles Davis é a figura central do Jazz. Definidor de caminhos, passou pelo bebop, cool jazz, fusion e, se ainda estivesse vivo, nos levaria a outros cantos do baú misterioso que é este ritmo. Mas é preciso lembrar que se Miles apontou caminhos à frente é porque ele tinha a vista ampla de quem pertence às alturas. E a montanha que ele havia escalado chamava-se Charlie Parker.


Parker, de apelido Bird, fez seu vôo meteórico entre 1920-1955, e conseguiu fazer tal evolução no jazz, tanto quanto Louis Armstrong havia feito na década de 20. Em meados da década de 40 o swing reinava nos EUA, ele havia se tornado o modelo musical da democracia americana e fora a bandeira da liberdade e progresso desse país durante a Segunda Guerra. No entanto, todo modelo é uma forma, e formas delimitam. Daí, um grupo de músicos procurarem outra via para expressarem sentimentos contraditórios à figura do “american way of life” presente no swing (democracia para o mundo e forte preconceito racial dentro de casa, por exemplo).


Dizzy Gillespie, Thelonius Monk, Kenny Clarke e Bird aventuraram-se nos clubes da 52th Avenue, em Manhattan, para remodular o jazz. Se com Dizzy, Clarke e Monk nós tínhamos a harmonia e o ritmo daquilo que viria a ser chamado de bebop, Bird trouxe – como nota o crítico Stanley Crouch, no já citado documentário de Ken Burns – o cimento que uniria esses tijolos, a saber, o fraseado. Parker voava por sobre as escalas intercalando entre uma nota e outra da melodia conforme aos acordes uma série de outras notas numa velocidade inacreditável.


Mas, a velocidade da vida de Parker, abastecida por heroína e álcool, levou-o muito cedo ao acorde final, privando-nos de uma mente musical que tateava com seu saxofone a escuridão que representa desconhecido. Justa homenagem a esse pássaro fez Clint Eastwood no filme “Bird” (1988). E é o mesmo Clint que nos leva de volta a Miles Davis, já que em seu filme “Na linha de Fogo” (1993), o segurança presidencial Frank (Clint) antes de receber o telefonema do provável assassino do presidente, Mitch Leary (John Malkovich), chega em casa exaurido e põe para tocar “All Blues” do disco “Kind of Blue” , que completa 50 anos nesse mês. Enfim, se Miles é um gigante do jazz, é justo dizer que ele atingiu essa altura ao subir nos ombros de outro gigante.






2 comentários:

Antonoly disse...

O Jazz, além de misterioso é um dos estilo musicais mais complexos que existem!

Lucas Neves disse...

Jazz,Jazz,simplesmente jazz